terça-feira, 24 de setembro de 2013

Programas do Estado atendem anualmente 19.200 pessoas para tratamento da dependência química

Por meio de diversas ações, Governo de Minas atua em prevenção, recuperação, reinserção social, pesquisa e disseminação de conhecimento relativo ao uso de álcool e drogas

Em 2012, parte da renda do Futsal Fest foi destinada ao tratamento de dependentes químicos em Minas | Aline Pereira

O crack é usado por 35% dos consumidores de drogas ilícitas nas capitais do Brasil, revela pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, divulgada na última quinta-feira (19). Para contribuir com a reversão desse quadro no estado, o Governo de Minas, por meio da Subsecretaria de Políticas sobre Drogas (Supod), atua em prevenção, tratamento, recuperação, reinserção social, pesquisa, disseminação de conhecimento, relativos ao uso e abuso de substâncias e produtos que causam dependência. Com a finalidade de oferecer tratamento aos dependentes químicos e proteção social, o órgão disponibiliza 1.600 vagas por mês em três tipos de modalidades: ambulatorial, permanência dia e abrigamento temporário.

O secretário de Estado de Esportes e da Juventude, Eros Biondini, explica que, para garantir vagas a 19.200 usuários de drogas, foram renovados, em julho deste ano, convênio com 28 instituições, integrantes do Programa Rede Complementar de Suporte Social ao Dependente Químico, para repasse de recursos da ordem de R$ 6,8 milhões. “Sabemos do trabalho vocacionado dessas comunidades terapêuticas, grandes parceiras na luta contra as drogas, e, por isso, empenhamos esforços para assegurar o investimento”, diz o secretário.

Além disso, Minas Gerais possui serviços como o Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas (Crad), que conta com profissionais especializados na área de dependência química, dando suporte e orientação a educadores, familiares e dependentes químicos. Com o trabalho, disponibilizam informação sobre a localização e o acesso a serviços de assistência pelo LigMinas. O serviço oferece, ainda, espaço físico para reuniões de grupos de mútua-ajuda, alcoólicos anônimos, entre outros. De janeiro ao final de agosto deste ano, o Cread registrou 73.141 atendimentos por telefone, mais de 2.800 presenciais e 1.570 em grupos. Desse total, 824 pessoas participaram de Grupo Familiar, 169 em Grupos de Acolhimento, 575 no Grupo Amor Exigente e dois no Grupo de Adolescentes.

Ainda no Centro de Referência, há o serviço de acolhimento e acompanhamento familiar ao usuário de álcool e outras drogas e sua família, em situação de crise, com vistas à minimização aos danos pessoais e sociais. As equipes, compostas por psicólogos e assistentes sociais, desenvolvem as atividades no domicilio e atuam, também, no sentido de apoiá-los após tratamento especializado.  A proposta é fazer o primeiro acolhimento, orientar e, quando necessário, encaminhar o usuário, ou membros da família, à assistência em serviços da rede disponível, ou seja, ambulatorial, permanência dia e abrigamento temporário. Neste ano, a prioridade é nos casos de internação encaminhados pelo Judiciário, totalizando, no primeiro semestre, 229 atividades de intervenção desenvolvidas.

Tratamento e Recuperação

Aline Fonseca do Couto, 33 anos, é uma das recuperadas por meio dos programas oferecidos pelo governo. “A droga entrou em minha vida através de um namoro viciado. Eu tinha 12 anos e comecei a cheirar cola de sapateiro e thinner por curiosidade. Aos 18 anos, experimentei maconha e, com 23, passei para a cocaína. Três anos depois conheci o crack e tornei-me escrava da pedra até os 30”, relata. Aline conta que seu pai faleceu há 13 anos e, por ser filha única, morava com a mãe e vendia as coisas de dentro de casa para sustentar o vício. Com 27 anos, engravidou, amamentou a criança por apenas um mês e quinze dias, voltou para rua e a deixou sob os cuidados de sua mãe.  “Um dia, minha mãe me procurou e relatou a falta que Laura, minha filha, estava sentindo de mim. Contudo, aconteceu uma tragédia. Como eu estava em uma favela, de esgoto a céu aberto, o mosquito da dengue a picou e como ela era portadora da doença de chagas, permaneceu internada por quatro meses e veio a falecer. A minha filha ficava com a minha tia e percebi que tinha perdido tudo, inclusive as únicas pessoas que me amavam. Piorei no vício, cheguei até a me prostituir para saciar a minha vontade de usar o crack. Decidi buscar pelo tratamento. Era a esperança de resgatar a minha vida”, conta.

Aline, então, buscou apoio do Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas. Lá, realizou os exames necessários para a internação e submeteu-se ao tratamento, por nove meses, no Centro de Reintegração social Beija Flor, uma das entidades parceiras do Governo de Minas, localizada na cidade de Oliveira. “Hoje, minha vida foi restaurada. Há três anos vivo de cara limpa. Recuperei a guarda de minha filha e estou casada com um homem que me aceita, respeita e me ama da forma como sou. Tenho a certeza de que daqui para frente só terei motivos para comemorar. Drogas? Nunca mais”, comemora. Atualmente, Aline é operadora de telemarketing e ministra palestras em escolas. “Não meço esforços para atuar na prevenção e recuperação das drogas”, afirma a ex-dependente.

Prevenção

No campo da prevenção, a Subsecretaria de Políticas sobre Drogas desenvolve o Programa Papo Legal – “Diálogos Comunitários para a Prevenção do Uso e Abuso de Drogas”, que tem como princípio a abordagem do problema do uso de drogas a partir da identificação das ações presentes em cada município, consistindo em um programa de caráter essencialmente preventivo, cuja atuação se dá em 47 municípios distribuídos em nove macrorregionais do Estado.

No plano estratégico, o Papo Legal direciona esforços para o fortalecimento dos Conselhos Municipais de Políticas sobre Drogas – Comads, entendendo-os como atores táticos importantes para a articulação das ações preventivas em âmbito local. Para isso, o programa desenvolve cursos de capacitação para representantes municipais, com objetivo principal de construir planos locais de prevenção do uso de drogas, que expressam a realidade e os anseios de cada município no que concerne à prevenção do uso e abuso de drogas. Soma-se a esta ação a elaboração de Mapas da Rede Social, ação que fortalece a rede de serviços, instituições e iniciativas ligadas à temática. Em 2013, o total do investimento aproximado para o Papo Legal é de R$ 1,5 milhão.

Outra ação neste sentido é o Concurso Estadual de Frases, Desenho e Redação. Em 2012, o tema foi “Mais Perto dos Livros, Mais Longe das Drogas” e obteve a adesão de 99.109 alunos. O objetivo consiste em formar uma consciência crítica nos alunos dos ensinos fundamental e médio das redes públicas e particulares e dos Centros de Prevenção à Criminalidade do Programa Fica Vivo. Em outubro deste ano, acontecerá a premiação dos três primeiros colocados nas cinco categorias (frase, desenho com frase, desenho, grafitismo e redação), as escolas e professores orientadores. Os prêmios variam de micro system e notebook a TVs de 42 polegadas.

Sobre a pesquisa

Encomendada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), a pesquisa divulgada na última quita-feira indica que os usuários regulares de crack e similares chegam 370 mil, nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal, representando 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha, nesses municípios, estimado em um milhão de brasileiros.

O trabalho foi feito com base em dados coletados em 2012 com 25 mil residentes nas capitais. As pessoas foram visitadas em suas casas e responderam a perguntas sobre suas redes sociais. Para o subsecretário de Políticas sobre Drogas, Cloves Benevides, a pesquisa elaborada pela Fiocruz torna-se referência para ampliação das ações voltadas para a temática. “O Governo de Minas tem um conjunto de ações em diversas áreas e foi colaborador de uma das fases da pesquisa da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas/Fiocruz. A partir de agora teremos um norte para alinhamento e aprimoramento das políticas sobre drogas em nosso Estado”, destaca. Cloves Benevides participará da oficina organizada pela Senad, composta pelos técnicos e pesquisadores da Fiocruz, com o objetivo de detalhar e promover o aprofundamento dos resultados do estudo .

Pesquisadores da Fundação analisaram ainda o perfil dos usuários do crack nas capitais, regiões metropolitanas, em cidades de pequeno e médio porte de forma a retratar um cenário similar para o país. O trabalho mostra que a maioria da população que usa regularmente é de não brancos (80%), solteira (60,6%) e do sexo masculino (78%) e que por algum momento já esteve na escola (apenas 5% dos ouvidos não completaram um ano de estudo).

O levantamento mostra que, entre os 370 mil usuários de crack e/ou similares, 14% são menores de idade. Isso indica que cerca de 50 mil crianças e adolescentes usam regularmente essa substância nas capitais do país. A maior parte deles (56%) também está concentrada nas capitais do Nordeste, onde foram identificados 28 mil menores nesta situação. Depois do Nordeste, em números absolutos o maior número de usuários de crack está concentrado nas capitais do Sudeste. A região reúne 113 mil consumidores regulares da droga, seguido pelo Centro-Oeste (51 mil), Sul (37 mil) e Norte (33 mil).

via Agência Minas