quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Estudo traça perfil de dependente químico em Ribeirão Preto

Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP com usuários dependentes de crack ou cocaína revela que o simples fato de ver pessoas consumindo álcool ou outras drogas pode favorecer a recaída. O estudo foi realizado no primeiro semestre de 2012 com pessoas que buscam tratamento no Centro de Atenção Psicossocial a álcool e drogas (CAPSad) de Ribeirão Preto e traz resultados que podem subsidiar as ações dos profissionais de saúde que realizam atendimentos e contribuir para uma assistência de qualidade e mais efetiva.

Foram entrevistadas 95 pessoas por meio de questionários sobre o padrão de consumo do crack e cocaína; a gravidade do problema em relação ao uso dessas drogas, bem como o uso do álcool e suas consequências para o organismo; família; trabalho e justiça. Com base nas respostas, a enfermeira Josélia Benedita Carneiro Domingues Rocci, a autora da pesquisa, conseguiu traçar o perfil do usuário dessas drogas que chegam para tratamento no CAPSad de Ribeirão Preto.

A professora Sandra Cristina Pillon, orientadora da tese de doutorado de Josélia, afirma que esse é um dos primeiros trabalhos desenvolvidos na EERP sobre o tema. “Ainda são poucos os estudos para avaliar este perfil, frente ao grande número de usuários de crack que tem buscado por tratamento”, conta.

Segundo Josélia, muitas vezes os usuários de drogas chegam às unidades de saúde com comportamento agressivo e desorientados devido ao uso da substância. Nesses casos, os pacientes precisam de cuidados que vão além de medicamentos. “Não é todo profissional que está capacitado para fazer uma abordagem específica ao dependente e iniciar o tratamento imediatamente, ou encaminhá-lo a um tratamento especializado. Às vezes, o profissional atende e considera-o apenas como mais um usuário ou um bêbado”, afirma. Ela ressalta ainda a importância de se conhecer o perfil destes usuários, bem como os problemas que essas drogas têm gerado na vida desses pacientes, para melhorar o atendimento realizado e evitar consequências futuras.

O perfil do usuário

O estudo mostrou que 58,2% dos atendidos eram usuários de crack e 44,2%, de cocaína. “A maioria era homem adulto-jovem, solteiro, com baixo nível de escolaridade, católico, branco e com trabalhos informais. Porém, é importante salientar que os usuários dessas drogas têm suas particularidades.”

Os usuários de crack, em sua maioria, têm de 30 a 49 anos, baixo nível de escolaridade, são evangélicos e estão fora do mercado de trabalho. “Devido à busca constante pela droga, eles não querem trabalhos que paguem depois de 15 dias ou um mês. Eles querem receber pelo serviço no mesmo dia.

”Já os usuários de cocaína são mais jovens, têm entre 18 e 29 anos, possuem ensino médio completo ou incompleto, são católicos e não possuem nenhum vínculo empregatício. A maioria busca tratamento por iniciativa própria ou de seus familiares. “A família não consegue lidar com essa situação e os colocam para fora de casa. Uns ficam debaixo de pontes, outros em casas abandonadas, sempre sem nenhum recurso, o que agrava o estado de saúde.”

O trabalho aponta também que a maioria dos pacientes é branca. “Geralmente, as pessoas acreditam que os usuários de drogas são negros e pardos. Nós estamos mostrando que, para o crack e a cocaína não existem etnias; qualquer um está sujeito.”

Os resultados também apontam que a maioria dos pacientes, principalmente os viciados em cocaína, contam com apoio familiar, o que os motivou a buscar ajuda após chegarem à situação de busca compulsiva pela droga. Por outro lado, entre os usuários de crack, foram detectados maiores problemas familiares.

“Eu sou contra a internação destas pessoas. Elas devem viver na sociedade e não excluídas”, defende Josélia, baseada nos resultados de sua pesquisa, que apontaram como principal causa da recaída a falta de suporte familiar. “Quando eu perguntei se já tentaram parar de beber ou usar drogas, disseram que não conseguiam porque, em casa, havia alguém que bebia ou era usuário de drogas.”

Como melhorar a assistência

Como respaldo aos profissionais da saúde pública, a pesquisa traz, após análise de aspectos de saúde e vida social, peculiaridades dos usuários de crack e cocaína. Além disso, as relações entre aspectos biopsicossociais e o uso dessas drogas também foram ressaltados. “Os resultados permitem afirmar que, apesar das diferenças pontuadas, os pacientes em tratamento e seus familiares requerem uma assistência diferenciada direcionada as suas necessidades específicas”, afirma a orientadora.

Segundo Josélia, o atendimento dado a essas pessoas só vai melhorar caso os profissionais da saúde conheçam melhor suas necessidades e a família receba maior suporte para auxiliar os dependentes.  “Não se trabalha só com o dependente, mas com a família também”, afirma, concluindo que “o serviço de saúde, na maioria das vezes, não está equipado tanto com recursos técnicos ou com recursos humanos.”

Agência USP |  Marcela Baggini, Comunicação Social da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Disque SOS Drogas realizou mais de 110 mil atendimentos em 2013

Gil Leonardi/Imprensa MG | arquivo
Em comparação ao ano anterior, dados representam aumento de 56%. Número de atendimentos presenciais no Centro de Referência Estadual em Drogas também cresceu

A Linha de Informações do Governo de Minas Gerais (LigMinas), na opção SOS Drogas, registrou em 2013 um total de 114.190 atendimentos a cidadãos residentes em todo o Estado. Em comparação ao ano anterior os dados representam um aumento de 56%, visto que em números absolutos houve 73.141 atendimentos em 2012. Foi registrado também um crescimento no número de atendimentos presenciais no Centro de Referência Estadual em Drogas (Cread), localizado na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte: em 2012 foram 2.800 e no ano seguinte 3.971.

O subsecretário de Políticas Sobre Drogas, Cloves Benevides, da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), comemora os índices e as constantes capacitações da equipe multidisciplinar que atua no SOS Drogas e no Cread. “A procura cada vez maior pelos serviços de atendimento aos familiares e dependentes químicos é explicada pelo reconhecimento, divulgação e credibilidade que conseguimos alcançar junto à população de Minas Gerais”, destaca Cloves Benevides.

O SOS Drogas tem dois níveis de atendimento, conforme a complexidade da situação. No primeiro momento, a pessoa recebe informações básicas e, caso necessário, passa para a fase seguinte, com a transferência da ligação para um especialista. O serviço telefônico funciona das 7h30 às 17h, de segunda à sexta-feira. Para ter acesso ao SOS Drogas, a pessoa deve escolher a opção 1 do canal de comunicação telefônico 155.

Serviços oferecidos

Os profissionais do Centro de Referência Estadual em Álcool e Drogas podem indicar cinco alternativas para auxiliar parentes ou usuários de drogas: o atendimento ambulatorial, a internação ou permanência durante o dia em comunidades terapêuticas, os grupos de terapia para usuários e os grupos de terapia familiar. O Cread funciona na rua Rio de Janeiro, 471, 3º andar, em Belo Horizonte, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h.

O LigMinas é uma central de atendimento telefônico pela qual o usuário obtém informações sobre os serviços prestados pelas instituições integrantes do Governo de Minas. São disponibilizadas, nessa central, informações relativas aos locais de atendimento para cada serviço; endereço e horário de funcionamento dessas unidades de atendimento; documentos necessários para acessar o serviço; valores e taxas que são cobrados e outras informações necessárias para obtenção do serviço buscado.

via Agência Minas

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Minas Gerais ganha 715 novas vagas de internação para usuários de drogas

Secretaria de Estado de Defesa Social, em trabalho conjunto com a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas, será a responsável pela gestão das vagas

Reunião nesta terça-feira contou com a participação de representantes de 42 comunidades terapêuticas | Gil Leonardi / Imprensa MG

Representantes de 42 comunidades terapêuticas se reuniram, nesta terça-feira (04), na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, em Belo Horizonte, para receber informações sobre monitoramento e fiscalização de convênios que garantem 715 novas vagas para internação de usuários de drogas em Minas Gerais.

Os contratos foram firmados entre as unidades de tratamento e a Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad), do governo federal, que junto com a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) realizará a gestão das vagas. A iniciativa complementa a Rede Complementar de Suporte Social na Atenção ao Dependente Químico de Minas Gerais, por meio da qual o Governo de Minas estabelece parceria com 32 instituições que atenderam quase 20 mil pessoas em 2013.

De acordo com o subsecretário de Políticas Sobre Drogas, Cloves Benevides, o Governo de Minas repassa, anualmente, cerca de R$ 7 milhões às entidades conveniadas e as ações serão suplementadas com o repasse de mais R$ 8,7 milhões, em 2014, pelo governo federal. “É com a integração das práticas de múltiplos atores que se constrói a políticas sobre drogas”, afirmou Benevides.

O presidente da Federação de Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil, pastor Wellington Vieira, também ressaltou que a assinatura dos convênios atende a uma demanda antiga das comunidades terapêuticas. “Desde 2011, buscamos o reconhecimento do governo federal para que sejamos considerados, de fato, um ponto da rede de atendimento. Foi um processo demorado, mas que agora seguirá um modelo semelhante ao adotado em Minas Gerais desde 2003”, afirma.

Capacitação

Nesta terça-feira também aconteceu uma reunião de alinhamento pedagógico com representantes de 12 municípios mineiros que aderiram ao programa “Crack, é possível vencer” e que receberão cursos de capacitação sobre a temática das drogas.

Estavam presentes, além do subsecretário Cloves Benevides, a diretora do Departamento de Políticas, Programas e Projetos da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), Cristina Gross Villanova, e o subsecretário de Integração de Minas Gerais, Daniel Malard.

Os cursos de capacitação acontecerão nos municípios de Betim, Contagem, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga, Juiz de Fora, Montes Claros, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Sete Lagoas, Uberaba e Uberlândia entre 17 de fevereiro e 26 de setembro. Eles serão divididos em três módulos: Curso Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária (80h); Tópicos Especiais em Policiamento e Ações Comunitárias (TEPAC) – Redes de Atenção e Cuidado (40h) e Tópicos Especiais em Policiamento e Ações Comunitárias (TEPAC) – Abordagem policial a pessoa em situação de risco (40h). No total, serão cerca de 480 pessoas capacitadas, entre policiais civis, militares, bombeiros e guardas municipais que atuarão nas cenas de uso mapeadas pela cidade.

A diretora da Senasp destacou a importância da troca de experiência entre as forças de segurança pública e os profissionais de saúde e assistência social, que também serão professores nas capacitações. “Além de passar o conhecimento, vocês terão oportunidade de ouvi-los naquilo que é a particularidade de cada uma das ações”, falou aos policiais presentes ao evento.

da Agência Minas